Escuto o tempo nas batidas do relógio
Vejo o tempo nas folhas tenras,
Nas metamorfoses refletidas nos espelhos
O aroma do tempo está nos perfumes da memória
E o seu gosto na comida que fazia a minha vó.
Vejo, ouço, degusto, cheiro
mas não o sinto.
Fabrico-o no grão da vida,
na batida lenta do meu coração
desde o primeiro suspiro.
Ele continuará, além de mim
Mesmo sem existir
No seus fios prata de silêncio
No canto mudo do mundo
No odor de terra molhada
Depois da primeira tempestade
A imaginação forjando uma
imagem entre um antes e o depois
Continuara até que todas
As ampulhetas se quebrem
Todos os ponteiros derretam
E o sol perdure a meia-noite
Mesmo que as flores não mais
Caiam das árvores
Uma canção do tempo
Viaja em nós pelos séculos e séculos
E eu que canto o tempo
Serei uma nuvem
Entre o céu e o sol
Nas lufadas de um vento azul
Serei apenas um retrato na eternidade.