A fada da água vivia num grande palácio no céu, chamado Palácio dos Ventos, edificado nos mais altos cúmulos e passava o tempo cultivando jardins de nuvens, podando-as em forma de carneirinhos, de anjos, de girafinhas e muitos outros desenhos que ela esculpia com a sua tesourinha de granizo. A fada também era responsável por regar as nuvens, enchê-las de água até precipitarem em forma de chuva e, assim, com seu trabalho ela mantinha a terra sempre regada, os rios cheios e os mares ondulantes.
Ao enviar a chuva para rios, córregos, riachos e ribeirões ela fazia enverdecer os vales, enchia os potes dos homens e as fontes a todos animais, floria e frutificava o mundo. Além disso modelava maravilhosas ondas móveis nos mares ondem vivem cardumes de peixes, algas e muitos outros seres. Com a sua magia a água passava do líquido ao vapor, do vapor ao gelo, do gelo ao líquido, do líquido ao gelo, num constante ciclo vital. Muitas vezes ela afastava as nuvens na chuva para brilhar o sol e pintar no céu, com gotas de chuva e luz do sol, um lindo arco-íris de setes cores. A fada-água vivia a encantar a todos com a suas artes e passes de mágica.
Porém a fada só via a terra do alto e um dia decidiu visita-la para conhecer o resultado do seu trabalho, ver os pássaros que aprenderam a cantar com chiado dos riachos, ver orvalho brilhante como joias sobre as flores!
Lá foi a linda fada com seus longos cabelos brancos, seu vestido vaporoso de gotas cristalinas e sapatinhos de gelo.
A viagem até a terra fora bastante longa e ela teve que percorrer às quatro estações para chegar até lá. Logo que chegou ela esperava encontrar o que sempre lhe narraram sobre o nosso planeta: lindos vales florais em vastas regiões, geleiras brancas em outras, areias e mares, mas em todos os lugares haveria muita vida, cheia de água limpa para alegrar e saciar a todas as criaturas.
Contudo, tamanha foi a decepção da fada água! Os rios já quase não corriam, estavam cheios de lixo, turvos de sujeiras. As criaturas não podiam mais beber águas dos riachos e ribeirões, as crianças não podiam mais brincar nos rios nem mesmo tocá-los. As fontes estavam petrificadas. Não havia mais abundâncias de flores e animais, a vida estava ameaçada.
A fada estremeceu e quase desfalece de tristeza! Desconcertada ela perguntou a um Tatu que passava o que havia acontecido; mas o tatu apressado não soube responder porque estava sempre em seu buraco e lá se foi.
Perguntou então a onça sobre a situação, mas a onça sempre preocupada com a sua caçada passou indiferente e nem lhe dera atenção.
Passou um homem a fada quis interroga-lo, mas fada era invisível ao homem. Eles já não podiam vê-la, tampouco escutá-la e nem mesmo senti-la! Lá se foi o homem para o mercado, que era só o que lhe interessava.
Por fim, insistente a fada perguntou a Coruja:
— Coruja o que houve com terra, com os rios, os mares? As águas estão quase todas sujas e a vida está ameaçada!
A Coruja sempre sábia e atenta, pois, observa tudo e estava sempre alerta respondeu:
— Os homens há muito tempo só se preocupam com riquezas e para obtê-las de qualquer forma sujaram as águas, secaram as fontes, semearam o deserto! Agora não temos mais para onde ir. Acrescentou.
A fada água ficou silenciosa e a Coruja perguntou:
— O que podemos fazer?
A fada respondeu:
— Antes que eu retorne ao Palácio dos Ventos deixarei para cada criança uma gota de orvalho para que vivam lembrando-se o quão preciosa é a água e que será preciso trabalhar limpando fontes, rios e riachos e cuidar das nascentes e dos mares. E voltarei a terra apenas quando essa geração tiver mudado!
A fada, então, com a ajuda da coruja, passava em cada casa onde tinha nascido um bebê e deixava como dom uma gota de orvalho, um pingo d’água para que elas tivessem pureza e cuidado, lembrando-se no futuro de cuidar das águas e da natureza. As gotas eram pequenas joias líquidas que faziam as crianças chorarem de alegria pelo presente dado pela fada.
É preciso umedecer os olhos e o coração para saber o que realmente é precioso!