Um cajueiro espalhado por mais de um campo de futebol, mais que uma quadra de sina tentacular, verde e vivo. O cajueiro em flor, o maior buquê do mundo! Carregado de cajus amarelos são como milhares de lâmpadas acesas à luz do dia. Pode a luz ter um perfume doce? Pois os cajus iluminam perfumando e o farfalhar das suas folhas cantam ao vento trazendo notas florais, frutais e musicais aos nossos sentidos.
Rezam as lendas do lugar que um pescador plantou o cajueiro, mas quem o regou durante toda uma vida foi uma índia Potiguar que perdera seu filho prematuramente e umedecia, com o seu pranto, o cajueiro.
Crescendo em águas sentimentais o cajueiro recebeu o dom de ouvir e escutava as histórias de todos que vinham descansar à sua sombra e foi crescendo, crescendo, crescendo, crescendo e quanto mais ouvia, mais crescia. As histórias, porém, que mais lhe interessavam eram as histórias sobre o mar, um mundo de águas misteriosas, infinitas e profundas. Diziam os narradores que o mar era da cor dos olhos de Atena, um verde mar!
Seria como as folhas do cajueiro? Sua curiosidade só aumentava e esforçava-se em crescer para o alto tentado avistar o grande mar que aos poucos já se ouvia o canto.
Quando o cajueiro cresceu ao ponto de avistar o mar ele chorou e sorriu

Um amor tão grande o invadiu o cajueiro, então, estremeceu e num extremo esforço começou a crescer rápido e horizontalmente como se corresse em direção ao mar, movendo-se para os lados, criando galhos como ondas pois tendia crescer mais e mais até alcançar o mar para abraçá-lo definitivamente.
E ele continuou a crescer e crescer até ficar preso nas paredes de uma larga muralha, tal e qual o Minotauro no labirinto. Dizem os videntes que um dia o cajueiro arrebentará a muralha e seguirá rumo as profundezas do mar, e assim o cajueiro vai virar mar e o mar cajueiro…
Porém, quando subimos no mirante de sua própria copa e olhamos, vemos que verde do cajueiro e o verde-mar já se tocam e se acariciam na linha do horizonte. Fundiram-se! E agora, ao pé da abóbada celeste, são um só, no tom da cor dos olhos de Atena que não deixa sem recompensa um verde e verdadeiro amor.
Valéria Cristina Silva